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Esses aplicativos sociais para se conhecer pessoas online próximas para conversar parecem aqueles antigos rolos de filmes, slides, maços de figurinhas repetidas que esperam que as crianças lhas tentem trocar ou disputem no bafo para poderem, finalmente, descansar coladas no álbum. Rosto após rosto sem muita explicação sobre de quem são, o que gostam, de que conversam, tirando uma ou outra garota que coloca os manjados: “Procuro relacionamento sério”, “Estou de de bem com a vida” e “Odeio falsidade.” Ninguém diz que gosta de tomar café da manhã na padaria conversando com o Seu Manuel ou uma cerveja ao fim do dia, com os colegas de trabalho, para rir das esquisitices dos clientes. Ou mesmo que tem gostariam de viver de fazer bonecas de pano ou que se encantam com os passarinhos nas árvores do quintal. As fotos quase todas, bonitas ou feias, são vazias e não remetem a ninguém. As mais interessantes, mas imagino que também sejam as de menos sucesso, são as dos muito tímidos e problemáticos que, no lugar de suas cars, colocam paisagens, flores, mensagens da Lollypop.

Eu passo o dedo alucinado de baixo para cima fazendo o carrossel de fotos correr feito doido, como o máquina de caçar níqueis, enfastiado de tantas fotos que não me dizem nada e das poucas legendas, que dizem menos ainda. Uma foto que passa na correria me chama a atenção e eu volto o carrossel na contramão para encontrá-la de novo. É da colega do trabalho. A foto parece desatualizada (claro que é, só os muito jovens colocam fotos atuais) e foi mal batida. Faz-lhe parecer gorda. Talvez apenas denuncie pois, embora eu não ache, já se referiram a ela para mim como “tua amiga gordinha”. Não resisto à tentação de dizer-lhe que troque a foto, que ela não lhe faz jus, que deve ter sido mal batida pois pessoalmente ela é muito mais bonita. Parte do irresistível da tentação é imaginá-la encabulada por ser reconhecida no aplicativo. Ela fica mesmo e tenta justificar a foto dizendo que é a sua melhor. Eu brinco mais e ela foge rindo.

Uns cinco minutos depois, ela volta parecendo assustada por uma ficha que caiu tarde: “Mas por que você estava olhando esse aplicativo? Você é casado?” A resposta eu já tenho na ponta da língua. “Mas você esta nesse aplicativo para fazer algo que gente casada não possa fazer? Pensei que ele fosse para encontrar pessoas para conversar.” Ela ficou sem reação como se a pegassem no pulo. Mudou o assunto para se eu entendia de fotografia. Não entendo mais do que o suficiente para dizer se gostei ou não. Da foto dela eu gostaria se fosse mais parecida com ela.

Realmente foi a primeira vez em que mexi naquele aplicativo. Havia olhado outros na mesma semana. Pareciam filas de gente encalhada na saída da balada esperando que que alguém lhes convidasse para uns amassos no estacionamento. Removi cada um depois de cinco minutos olhando do que se tratava. Esse foi o último, me pareceu um pouco diferente. Ainda assim, o removi no dia seguinte.

imagino porque não existem aplicativos ou sites para quem só quer conversar. Ou por que não fazem sucesso. Talvez todo o mundo queira mesmo só fazer coisas que gente casada não possa fazer.

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