Monumento

Sábado acordei tarde. Ia trabalhar à noite. Então aproveitei a noite da sexta pra me divertir, passear, jantar fora e ir ao cinema. Acabei dormindo muito pouco.

No sábado, tomei café já quase na hora do almoço. E quando quis almoçar, meu restaurante de sempre estava fechado. Lembrei de uma lanchonete no interior, uma onde eu já há algum tempo queria ir, com uns salgados diferentes.

Peguei o carro, odeio dirigir, mas a revolta de trabalhar à noite da sanha de fazer algo diferente durante o dia. Entrei na maldita estrada, uma hora até a entrada da cidade. Pouca coisa para fazer pelo caminho, e eu doido pra uma desculpa pra parar e tomar um café ou coisa do tipo.

Ouvi todo o disco do Lobão, uma vez e meia. Ansioso por chegar, errei a saída da rodovia, peguei uma antes, na mesma cidade, mas outro bairro. Um trevo, uma rotatória que eu nunca tinha visto.

No meio da rotatória, uma estátua, monumento, algo assim. Uma carroça grande, desses catadores de entulho, com um homem é um cachorro dormindo embaixo. Nesta região, tem um artista que faz monumentos de entulho, ferro-velho, para as prefeituras. Todas as cidades têm ao menos um. Este eu ainda não tinha visto. É o mais bonito de todos.

A luz fraca da tarde nublada, o deixa pardo, mas parece ser todo feito de madeira ou metal marrom. Os outros desses costumam ser grosseiros, mal encaixados, de metal cinza, prata, provavelmente de alumínio. Alguns com marcas vermelhas de zarcão.

Parado no semáforo antes da rotatório, olho bem. Se tivesse levado a câmera, daria um jeito de descer e tirar algumas fotos. É bonito mesmo! O únicos desses de que gostei. Mas por que um catador de ferro-velho? Alguma coisa em particular desta cidade com eles?

A resposta não demorou mais que o semáforo. Logo o cachorro deu um pulo rápido, se levantou cutucando com o focinho o homem, que balançou a cabeça e esfregou o nariz com o braço.

Eu não ri, nem me espantei. Pensei em meus olhos e na luz fraca do sol mal-atravessando as nuvens, deixando a cena parda e sem vida. Pensei no homem que dormia na rotatória no meio do nada. E de novo em meus olhos que não entenderam isso antes.

E fui embora procurar meu lanche.

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