Pela Janela

Entrou voando pela janela algo. Pelo colorido, parecia um beija-flor. Muita gente coloca nas janelas vasos de flores coloridas e bebedouros de água com açúcar para atraí-los. Não é incomum que se embebedem com aquela porcaria e percam o camino de volta, vão dar de cara com a janela de ouro apartamento.

Ele pousou na sanca branca do teto da sala, de cabeça para baixo. Beija-flor não podia ser. Morcego colorido? Borboleta. Uma borboleta diferente. Nas cores inusitadas, no formato das pintas e no do corpo.

Subi no encosto do sofá, perigava cair pela janela, para ver-lhe, curioso, e também para procurar um jeito de ajudá-la a sair. Decerto não sobreviveria muito tempo num apartamento. A gente se acostuma a viver nestas prateleiras de gente, odiando e achando esquisito, mas, só quando imagina uma borboleta viver aqui, é que se dá conta de que não é possível viver assim.

Sou baixinho e atrapalhado, tive de pôr a mão na sanca, que mal alcancei, para me equilibrar no encosto do sofá. Olhei pela janela. É alto.

Não precisei olhar muito a borboleta para ver que era uma farsa, uma mariposa muito grande, pintada. A pintura muito bem feita, só pode ter sido feita por um artista. Sem a simetria peculiar à mãe natureza, contornos bem delineados das manchas coloridas. Não sei que tinta foi usada, parecia muito natural. Talvez Deus tenha se cansado de suas regras habituais e resolveu dar-se uma pausa para brincar de pintar.

Escancarei toda a cortina e a janela e com uma revista ameacei cutucar-lhe para lhe mostrar o caminho para fora. Ela foi. Foi… para ser o que quisesse.

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