Ele já tomou banho, está sentado na poltrona, pernas esticadas sobe o pufe, televisão ligada no telejornal de um canal europeu, sem som. A música vem do notebook que ele tem no colo. Uma daquelas bandas que só ele conhece.
Ela sai do banho de regata branca, dá pra ver o sutiã, aqueles feios que imitam a cor da pele. Cor da pele de quem? Está com os shorts velhos de algum pijama antigo, tão antigo que nem dá pra lembrar qual. Sem maquiagem, o perfume de sempre. Segura um frasco de creme. Que linda!
“Vem pra cama.”
“Vem pro colo rs”
“Você está trabalhando?”
“Escrevendo.”
Senta de pulo na poltrona ao lado dele.
“Sobre o quê?”
“O passeio da tarde.”
“Posso ler?”
“Fica aqui.”
Ela põe a cabeça no ombro dele e lê um pouquinho do que ele escreveu.
“Quer dizer que eu estava gostosa? rs”
Levanta a cabeça de novo, rindo.
“Delícia. rs”
Ele sorri, beija-lhe o pescoço, bem junto do ombro, como eles gostam.
“Queria conseguir viver disso…”
“De me beijar?”
“Disso eu já vivo rs”
“De escrever?”
“De escrever sobre como eu gosto de você.”
Ela ainda é pega de surpresa com algumas coisas que ele diz, ou com como ele diz. Mas do que gosta mesmo é de como os olhos dele se umedecem quando diz certas coisas. E de ele pausar o que faz para pousar a cabeça em seu colo.
Ela aproveita a posição, beija-lhe a cabeça, ainda cheira a xampu, e fala baixinho em seu ouvido, como se ali houvesse alguém mais que pudesse ouvir o segredo que não é segredo.
“Vai ficar escrevendo?”
“Mais um capítulo.”
“Capítulo?”
Ele se vira pra ela.
“É. Vou escrever em você.”
A está altura eles nem sabem mais onde foi parar o notebook. Estão sentados virados um para o outro, uma mão em cada pescoço, a outra procurando a cintura ou o sovaco pra abraçar.
“Vai escrever com os dedos? Digitando?”
“Primeiro com a boca. Depois, deixa ver pra onde a história leva.”
Acho que ela nem entendeu ele dizer isso. Já estavam se beijando antes de ele terminar a frase.