… do veterano para a menina nova.
An ever-growing post.
Eu venho até aqui a pé porque gosto de andar e, quando ando, gosto também de pensar na vida, nos problemas todos que eu mesmo crio para minha cabeça. Acho que são muitos e, por isso mesmo, venho devagar, olhando a paisagem urbana da avenida mas sem lhe dar atenção.
Nesta época do ano, primavera, verão, por estas horas ainda não escureceu, não há lua ou estrelas. Por isso não gosto de horário de verão. Prefiro aproveitar cedo o escurecer, as noites de vento fresco, o céu escuro sem nuvens, com vista para a lua e as estrelas. Ainda com sol, o caminho fica insosso. Sem beleza para me distrair, me sobra pensar nos problemas e nas paisagens que tenho guardadas na memória e na imaginação.
Quando chego, ainda longe, na outra ponta do corredor, eu sempre fico ansioso em saber se você está, para me dar boa noite, mesmo sabendo que você não é de faltar e que é pequena a chance de não te ver. Ao mesmo tempo, fico envergonhado de que você ou suas amigas percebam e me achem ridículo. Passo tímido, acanhado, sem jeito, dissimulando. Me apresso, me atrapalho. Finjo que não te procuro. Acho que, além de ridículo, muitas vezes, acabo por fazer papel de grosso e parecer que não me importo ou que fujo. Se fujo, é de mim mesmo, de minha criancice de quem se acha no direito de ainda agir como adolescente bobo porque, na verdade, espero o dia inteiro por essa hora em que, mesmo eu envergonhado, vejo teu sorriso alegrar minha noite como se fosse a lua. Meia lua, lua crescente, brilhante, bonita e simpática.
Tem gente que, graças a D”s prefere outras coisas da noite. Tem até mesmo quem goste mais do dia. Eu gosto desse luar de teu sorriso com o brilho das duas estrelas que são teus olhos e, ao redor, o céu escuro e limpo de seus cabelos.
É por isso que, entre uma atividade e outra, não consigo evitar (bom, na verdade, nem tento evitar) de olhar curioso, disfarçando, meio de soslaio (você sabe o que é soslaio?), na direção onde sei que você fica, te olhar um pouquinho, mesmo que seja só para te ver de costas, distraída ou ocupada com suas atividades. Gosto de te ver de lado quando olho assim. Não consigo ver teu rosto, não ganho sorriso, mas também não fico com impressão de te atrapalhar procurando atenção. E, em compensação, vejo o contorno bonito teu corpo, teus cabelos lindos, que combinam com o uniforme e me dão vontade de brincar.
Duas ou três vezes (acho que foram duas), eu nunca vou me perdoar, cheguei tão acanhando que consegui que você não me visse entrar. Numa dessas vezes, a última, você, acho que no caminho para ao banheiro, me viu e parou para conversar. Depois na saída me deu as mãos para, antes de eu ir embora, puxar uma conversa que eu não engatei, tímido de novo ou com medo de que depois alguém te enchesse o saco por isso. Ainda assim, antes de fugir, senti teus dedos deslizarem devagar pelos meus, fiquei confuso (não sei direito porquê) mas feliz.
Hoje mesmo, algumas semanas depois disso, ainda estou chateado por meu vacilo. Devia ter arriscado ser inconveniente até você me expulsar dali. E, como condição para te deixar em paz, pedir teu telefone para conversar depois sobre minhas idéias fixas.
A primeira ideia fixa me parece até meio boba, porque é algo tão simples, e acho também que é a que mais quero. Com a mão, soltar teu cabelo, arrumá-lo para trás da orelha e descer para teu rosto, segurá-lo como se pousasse sobre um travesseiro.
Depois vem a ideia mais óbvia e que também é a que me deixa mais constrangido de contar porque se você levá-la a mal pode se ofender e não tenho intenção de fazer nada que possa ser ofensivo. À primeira vista, é tão simples e espontânea que não devia ninguém se envergonhar dela ou por ela. Penso em você sentada em meu colo, de frente para mim, para eu pode ter abraçar com as mãos em tuas costas e beijar se você tiver vontade também.
Por último, a que me parece mais legal. Andar devagar, tem de ser à noite, uma caminhada bem demorada, à procura de um restaurante, ou um café, um teatro ou um parque, por um caminho de céu limpo com lua e estrelas, conversando fiado. Você me contando as coisas de que gosta, o que faz quando não estou te espiando, o que te deixa feliz é o que te deixa triste, qual sua cor preferida, se tem algum bicho de estimação, como comemora teu aniversário, onde passou as últimas férias…
Como se fosse um de meus antepassados descobrindo os segredos da navegação no céu do Atlântico e do Índico, com sextante, astrolábio, mapas e tantas outras ciências, muitas delas já perdidas na história. Andar a teu lado conversando, como navio seguindo uma estrela no oceano.
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