Faz-me falta escrever à mão. Aquela escrita a lápis que eu odiava no tempo de escola. Odiava porque, não sei se aperto muito o lápis, mas minha mão, meu pulso, o cotovelo, logo doem muito. Além de que, à mão, eu escrevo muito devagar. Sempre escrevi devagar à mão. E isso não tem nada a ver com a caligrafia. Minha letra é bem desenhada, tem seus rococós, é uma letra bonita todos dizem. Mas ela ficou assim conforme eu fui pegando pratica. Devagar e dolorido sempre foi. Mas hoje, que me acostumei com o teclado, o mouse e a tela do tablet, sinto falta da liberdade do papel. De escrever fora das linhas, das margens, das bordas. De errar o formato da letra, tremer, apertar ou afrouxar o lápis, borrar. Apagar e deixar marca. Fazer uma bolinha no “i” e riscar o “ç” como os professores me diziam para não fazer de jeito nenhum. O cheiro do papel, da tinta e do grafite. Sinto falta de segurar o papel e senti-lo com a mão esquerda, enquanto a direita trabalha. E de, no final, juntar as folhas e segurar o que fiz, pelo volume ter ideia de quanto trabalho me deram. Depois grampear e passear dias preocupado com onde escondê-lo. Até um dia achar melhor rasgar e queimar no forno à lenha do quintal. Hoje, não consigo ver ao mesmo tempo o começo e o fim, minhas mãos não doem, não há cheiro, e é tão fácil de esconder que parece que não fiz nada.

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