A noite estava, até então, perfeita: ela se atrasou (culpa de um imprevisto no trabalho e da chapinha que ela não sabia onde pôs), o filme era uma porcaria e (em vez de levá-lo a sério) divertiram-se remedando-o e fazendo piadas com as situações ridículas que os coitados dos atores passaram, o restaurante que queriam estava lotado. Chegavam à meia-noite sentados feito crianças no banco do parque com um pão e meia garrafa de vinho que compraram no mercado (beber de estômago vazio é para alcoólatras dizia o pai dele).
“O que você quer fazer depois?”, ela perguntou.
“Antes de dormir, escovar os dentes rs”
Ela também riu. Tomou-o por tímido. Não estava errada. Ele notou o quão ridículo que era fazer rodeios para o que ela, com certeza, já sabia que ele queria.
“Quero qye você durma no meu colo.”, falou encabulado, mas nervoso e feliz por ter vencido a timidez.
Ela tomou-o não ser direto por romantismo, e gostou. Achou que tinha de dizer algo em troca:
“Eu quero que você me ame esta noite, como se não houvesse amanhã.”
Sua frase fez com que ele pensasse, ou se lembrasse, uma coisa que lhe incomodou. Alguns homens teriam dado risado da frase dela. Frase pronta que parecia tomada de um diálogo de telenovela. Ele não. Ele se incomodou com a palavra que ela usou para o que fariam. Pode ter sido só força de expressão, e ele achava mesmo que era, um eufemismo no lugar de outra palavra que ela não quis dizer. Ora, mulheres também têm direito ao pudor. Mas ele se incomodou. Imperdoável infantilidade sua, ele reconheceria depois. Mas soltou-a do abraço e começou a pensar em como terminar logo a noite que, de repente, tornou-se-lhe incômoda.
Ela, obviamente, perguntou-lhe o que aconteceu. E isso o deixou sem graça, mas resolveu-lhe o problema de como abreviar a noite:
“Se você acha que isso é possível… Na verdade, se você acha que amor é algo que possa ser usado nessa frase… Você não sabe o que é amor… Você está pensando em outra coisa… E quem não sabe o que é amor, para mim não serve.”