Um cineminha mais-ou-menos, como diria a própria protagonista do filme. Na volta para casa, trânsito. Um caminho mal escolhido. E eu sempre me pergunto, nessas ocasiões, se foi realmente uma má escolha ou se eu não queria mesmo uma desculpa para me demorar olhando o caminho, a paisagem. Não havia paisagem. Ruas feias, prédios feios, zona decadente, zona mesmo. Eu voltando e a molecada descendo a rua, muitos com garrafas na mão, ou outros, quase todos, com copos descartáveis. Vinho vagabundérrimo, refrigerante cítrico misturado com pinga, ou mesmo álcool, drinks a base de açúcar, catuaba, álcool e nem eles mesmos imaginam o que mais. Garotas bonitas passando, garotos, há garotas feias também. Passa um casal, ambos muito bonitos. Junto a eles, a amiga, não tão bonita, segura um copo de bebida ligeiramente esverdeada. Andam com pressa os dois à frente, o casal. Ela, apressa o passo a lhes acompanhar. Percebe-se que não queria correr. Atrapalha-se a beber. Provavelmente bebê para esquecer que não é tão bonita quanto os amigos e conseguir se enturmar com os desconhecidos como eles se enturmariam se não estivessem em casal. Talvez para sair de lá em casal. Outra garota passa, também não é das mais bonitas, sozinha, fantasiada de capeta. Deve ser um modo de sinalizar aos homens. “Ei, eu não sou comportada. Sou uma capeta. Venham em mim. Vocês sabem o que eu quero.” Ilusão dela. As outras também querem isso e, muitas delas, são mais bonitas. E nem precisam de fantasia de capeta. Eu vou só subindo a rua, avanço cinco metros e paro, mais cinco e paro, me divertindo em imaginar o que se passa com cada um. De alguns, tenho inveja, de outros, invento alguma desculpa esfarrapada, desfaço. Eles vão procurar companhia. Eu volto para dormir.