O menino, já nem é mais tão menino assim, admira a lua que já está no céu, embora ainda a noite não tenha escurecido. Gosta de olhar a lua, especialmente nessas cenas inusitadas de ela sair ainda à luz do sol. Ele ouve uma música. Uma que provavelmente nunca ouviu antes, mas que soa conhecida. Vem do céu. Ele olha na direção e vê uma nuvem grossa, escura, pesada, de onde parece vir a música. O som é muito baixo, quase inaudível. A nuvem não, vem longe mas é bem visível. É brincadeira comum de crianças e adultos achar formas às nuvens. E ele a olha, procura uma forma, percebe que são, na verdade, várias nuvens que se entremeiam e sobrepõem como relevo de um desenho. Tenta imaginar o que formam. A princípio, um pedaço lhe lembra a coxa do frango do jantar de domingo. Outro pedaço, uma asa, do mesmo frango, mas em escala bem maior. A nuvem se aproxima e, quando esta já perto, ele reconhece um cavalo, um lindo cavalo, magro, forte, com os músculos, rabo e crina todos muito bem delineados. Ele pousa, na areia da praia, não muito longe dali. O menino, perplexo, estranha sua cor, seu jeito e começa a se aproximar. Não está ainda muito perto quanto percebe, tem certeza, a cor… a praia… o cavalo não é uma nuvem, ele é feito de areia. Logo que pensou isso, o bicho, a nuvem, levantou sua cabeça em direção à lua e partiu de novo. Voou deixando um rastro de poeira e música, da praia onde estava o menino. Voou para a lua. O menino… o menino já não estava perplexo. Tinha pena. Pena de não ter podido, de não saber se teria sido possível, por ser de frágil areia o cavalo, montar em suas costas e ir junto.