Jornal

Perdoe-me o amigo esta intromissão. Mas eu sei bem o que é isso de abrir o jornal e não encontrar nada de interessante. Nenhuma notícia relevante. Só os classificados e anúncios, intercalados pelas amenidades que julgam que queremos encontrar pra fingir que a vida não é feita só de papel carimbado e dinheiro taxado. Eu também leio jornal e o folheio inteiro, caderno por caderno, página por página, sem encontrar palavra alguma que valha a tinta, ou título que não pudesse ser pescado de dentro de uma caixa de recortes por um periquito de realejo. Eu também me decepciono com as primeiras páginas. As manchetes que me dão sono e as fotos revoltantes que já não me causam mais que indiferença e me fazem confundir o jornal de hoje com todos das semanas passadas. Eu também prometo todos os dias que não vou mais comprar ou ler jornal. Mas, meu amigo, no dia seguinte estou lá de novo procurando algo naquelas mesmas páginas fedidas e me decepcionando de novo, de saco cheio. E prometendo de novo, é claro! O problema é que à noite, deitado, pensando no que farei na manhã seguinte, no café da manhã, ao invés de tentar ler algo no jornal, percebo que, sem ele na minha frente, aquelas páginas grandes, abertas, eu veria o resto do mundo. E me diga, meu amigo, se o mundo aqui fora não é essa mesma mesmice do jornal, mas com movimento, cheiro e som. Não vou estragar assim meu café da manhã, não. Deixe estar o jornal na frente do meu rosto. Deixa-me folheá-lo e encontrar as mesmas merdas de tantas outras edições, sem novidades que me revoltem o estômago.

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