Eu subi no ringue. Era um ringue de boxe. Eu usava luvas de boxe e umas bermudas brancas com as pernas bem largas, tecido lustroso. Sem camiseta, minha barriga gorda, branca. Estava ridículo. Mas nem ligava para isso. Estava com vergonha de ficar ali, independente do que vestisse. E nem havia porquê. As cadeiras da platéia estavam vazias.
Uma voz de alguém que eu não vi, mas que estava em cima do ringue também, vi seu microfone pendurado do teto, disse algo. Não ouvi, mas sei que disse. Estava nos apressando. Queria que começássemos logo. Só então percebi uma mulher lá em cima comigo. Usava vestido vermelho. Não era para brigarmos, tínhamos de trabalhar.
Eu não queria trabalhar com ela. Desci do ringue. e logo me vi no corredor que levava para o vestiário. O corredor estava todo molhado de água infiltrada. Eu me assustei, não sei se assustar é bem o termo, com algo na minha frente. O corredor virou um cenário marrom e em pé, logo à minha frente, estavam quatro ou cinco crianças, em desenho animado. Usavam jeans muito largos, com suspensórios, iguais a calças de palhaço. Uma delas, menor, segurava a mamadeira.
Estavam decepcionadas por não assistirem uma briga. Tive pena. Crianças não deveriam se decepcionar. Mas quando percebi que o menor, o da mamadeira, usava um gorro igual ao do Peninha e se esforçava, com a mão livre, em puxar para cima as calças que teimavam lhe cair, pois os suspensórios eram grandes e elas muito largas, resolvi que aquilo tudo ali era ridículo demais para merecer meu respeito. E fui embora.