No caixa, ele beijou a mão dela, como faz quase todo dia:
— Você cobra para mim?
— Claro. Um café e um pão-de-queijo?
— Dois. E dois pães-de-queijo também.
— Dois? Você tomou dois?
— Sim, dois. Eu tomo dois todo dia.
— Catorze reais.
— Cobra no débito, por favor.
— A máquina está do seu lado, você pode pôr o cartão nela?
— Claro.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Só uma? Pode.
— Você é gay?
— Sou. Por que?
— ‘Tô falando sério, você é?
— E eu não respondi sério? Eu sou.
— Você é casado?
— Com uma mulher. Mas tenho dois peguetes.
— E tua mulher?
— Ela também é. Ela tem as peguetes dela e também pega os meus.
— Eu não acredito. Só acredito se eu vir você com outro homem.
— Isso você não vai ver…
— Não vou ver porque você não é. Eu não acredito que você seja.
— Por que não?
— Porque… — abaixa o rosto, encabulada.
— Então por que você perguntou? — sorriso, feliz por ela ter ficado encabulada.
— Ah! Porque ia explicar…
Não terminou a resposta. Já chegou outro cliente no caixa. Estavam os dois chateados por não acreditarem na resposta que sabiam que era mentira.
— Ciao — ele acenou com a mão, piscou o olhou e mandou um beijo.
— Tchau. — Ela também mandou um beijo e foi providenciar o troco do outro cliente.