Eles não fariam aquela cerimônia tradicional, grandiosa, cara, para se lembrar a vida toda.
Durante o dia, fizeram a mudança, das malas dela, para o apartamento onde ele já morava. As chaves, ela já tinha, e também o costume de chegar para visitar, ficar e dormir sem precisar avisar antes. Meia dúzia de amigos, mais de amigas, ajudaram a carregar malas, caixas e arrumar algumas coisas no guarda-roupa. Não que precisassem. Foram convidados para o jantar e se ofereceram para ajudar. Seria divertido, e teriam desculpa para chegar mais cedo sem incomodar.
O jantar, para marcar a data, num restaurante que eles gostavam. O dono os conhecia já, namoraram muito lá. Foi muito simpático em reservar uma mesa grande para eles. Ao todo não eram mais que vinte. A meia dúzia de amigos, os pais, os irmãos e os cunhados. E nem todos iam. Não era um casamento, era uma comemoração.
Tanto que eles ficaram muito sem-graça, encabulados, quando os convidados os incitaram a discursar e trocar votos enquanto esperavam a comida. Mas ela, eu acho, não foi pega tão de surpresa. Já tinha preparado algo. Será que ele pisou na bola em não preparar nada? Ele tinha que saber que faria isso? Não tinha nada preparado. Ela leu o dela, sorrindo feliz, leu do telefone. Foi bonito. Ele ficou encabulado. Ela, com a atenção no que lia, não ficou tanto. Ele mordeu o beiço e, quando ela terminou, pensou em lhe beijar. Ela olhou emocionada, mas não chegou perto para deixar-lhe beijar.
Depois era a vez dele. Esperaram que ele falasse o dele. Ele não tinha nada pronto. Tentou inventar algo rápido, de improviso. Ele é bom nisso. Em pouquíssimos segundos, se lembrou de tanto coisa, coisa com ela, coisa por ela, coisa de antes dela, que imediatamente ficou com vontade de chorar. Abaixou um pouco o rosto para tentar disfarçar e se controlar, perceberam todos, o olho esquerdo molhou é o rosto escondeu o sorriso de lábio mordido de antes. O lábio ainda estava mordido, agora pra controlar o resto do rosto.
Ele pegou o telefone também. Não era para ler nada. Rápido, procurou e pôs uma música. É uma música que ele gosta e que sempre achou que cairia bem em algum trecho de uma cerimônia de casamento. Encostou o telefone na orelha dela, para que ouvisse direito. Ela reconheceu a música e se lembrou de quando ele falou dela e ela a ouviu pela primeira vez. Gostou da lembrança e da cara emocionada dele, se emocionou também.
Ele, sem palavras, desistiu de falar bonito, ou de ser adequado à ocasião, só quis ser sincero: “Você sabe o bem que me fez você entrar na minha vida, o bem que me faz você nela. Eu só quero que nós continuemos nos amando e respeitando como até hoje, e conseguir retribuir todo esse bem que você me faz.” Falou bonito. Falou e chorou. É um chorão. Nem todos sabiam isso, alguns estranharam.
Ela o abraçou. Ele se esqueceu daquele beijo que pensou em lhe dar. Demorou um pouco para desfazerem o abraço. Deram as mãos, se olhando, acariciaram os rostos um do outro, mais sinceros e esperançosos que nunca. Mudos, prometiam-se que daria certo.
Foi uma cerimônia de que se lembrariam pelo resto da vida.
Se eu estivesse presente acho que não me esqueceria nunca também…
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Acho que eu também…
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