Eu estava pensando, não é assim sempre, mas há algumas vezes, e talvez essas sejam as melhores, em que o sexo se divide em dois momentos: o das bocas e o das mãos.
O momento que eu digo que é o das bocas é aquele inicial. Começa quando a gente ainda não sabe se pode rolar algo, faz rodeio, fala, conversa, se olha. As bocas se oferecem, e se procuram, receosas. Quando se encontram, correspondidas, a emoção da ansiedade dá lugar à da aceitação, à da paixão. Esse é o momento da paixão. As bocas o representam. Procuram-se no beijo. Depois, na exploração dos corpos. Nos beijos apaixonados, nos beijos pelo corpo, preliminares. E nos outros beijos pelo corpo que não são só preliminares, são os definitivos, que poderiam ser o encerramento da noite se a paixão não fosse tão grande e não demandasse outros. Acaba naquele outro beijo, apaixonadíssimo e excitadissimo, quando os copos estão grudados e entrelaçados, até que um derradeiro espasmo deixe um dos dois, normalmente o homem, inerte, fora de ação. Satisfeito, por hora. Se cavalheiro, imaginando se o prazer apaixonado foi recíproco.
O segundo momento, o das mãos, vem daí a pouco quando, recuperados, passado o arrebate da paixão, desinibidos, já nus, já conhecidos, entregues, os dois se permitem aproveitarem-se com mais cuidado, mais devagar. Olham-se sem vergonha, tocam-se. Fazem carinho pelo corpo um do outro. Deslizam as mãos pelos corpos se conhecendo, se reconhecendo, explorando, devagar, sem pressa. É o momento do carinho e do desejo. A paixão descansou, satisfeita. O desejo prevalece, e se revela na forma escolhida para demonstrar o carinho. Quando os corpos se encaixam de novo, enquanto as mãos buscam, com cuidado, sentir e excitar, até que o segundo espasmo final os detem. Mas não separa. Mesmo que o resto dos corpos se desgrude, se separe. Ficam ali ainda, cansados, respirando fundo, de mãos dadas, sorrindo involuntariamente.