Acho que a Magali foi a mulher mais bonita que já trabalhou comigo. Não sei se foi a mais bonita de todas que eu já conheci. Todas é muita coisa. Magali era realmente muito bonita, por dentro e por fora.
Conversávamos bastante, no trabalho. Fora, seus horários eram complicados. Ciumenta, corria na saída do trabalho, para o escritório do marido, marcá-lo de perto. O do almoço era fixo, apertado, o meu sempre foi bagunçado, dependente do ritmo do trabalho. Como eu trabalhava das onze às oito, normalmente, almoçava tarde, ficava difícil sincronizar com ela. Quando podíamos almoçar juntos, íamos só os dois. Os outros gostavam de falar de baladas e de trabalho. Isso nos irritava. Falávamos muita besteira séria. Por causa desses almoços, ouvíamos muitas piadas maliciosas. Ela sempre me provocava: “Não dá. Você é tão legal! Porque você tem de ser tão feio?” O jeito era rir.
Pras colegas que perguntavam se tínhamos algo, ela dizia: “Ah! Ele é tão legal! Eu queria tanto dar uma consertada nele!”
Um dia me contou um segredo: “Sabe?” Tudo o que ela contava começava assim. “Sabe? Eu gosto de homens, mas vocês deviam ter peitos.” Eu, bobinho, respondi que homens têm peito. Ela pareceu se revoltar de ter que explicar: “Não, não, peito mesmo, peitão. Assim ó – e fez com as mãos nos seus – peitos de encher a mão, pra se abocanhar e ainda sobrar, com uns bicões parecendo chupeta. Não tem como resistir a um peitão. Nossa! Eu fico doida! Mas não tem uma mulher que não fique doida com um peitão. Toda mulher gosta de um peitão.”
Não sei se foi minha cara de pasmo ou minha boca calada, sem palavras. Falar o quê? Ela falou, já tinha começado mesmo. Foi assim que eu soube que pessoas muito normais podem fazer coisas muito diferentes. Que há mulheres normais que ligam para as amigas quando estão em casa e o marido não.
O choque durou um pouco. Mas eu logo percebi que para mim ela continuava a mesma. Talvez porque fosse a mesma. Talvez porque fosse como é por ser como é.