Quem não me conhece direito, costuma achar que gosto do calor. Realmente gosto de usar pouca roupa, ficar à vontade, apesar no sol, ir à praia. Mas essas não são coisas pelo menos para mim, que se faça exclusivamente no calor.
Quem me conhece bem, julga que eu goste do frio. E eu gosto do frio. Gosto também do calor, mas mais do frio. Aprendi a gostar do frio conforme cresci. O calor é um clima juvenil, serve bem às brincadeiras. O frio é maduro, romântico, sereno. Há de se saber lidar com ele. Manter a ventilação, agasalhar-se adequadamente. O frio é bonito. Com neblina então, convida a ficar quieto só olhando e pensando. Pensando em qualquer coisa.
Mas eu sei que do que eu gosto mesmo é da chuva. Sempre gostei. No frio ou no calor.
Gosto tanto daquele pé-d’água rápido do verão. De sair correndo, deitar-me na areia da praia ou na grama, deixar a água me molhar, não como banho. Chuva não é banho. Chuva é chuva. São as nuvens se desmanchando e caindo sobre mim. Banho não é tudo isso. Me molho gostoso, rindo, e quando ela passa, passeio no sol. Depois vou para casa pôr a roupa para lavar e tomar um banho quente.
Como também gosto desta chuva fininha de inverno. Está garoa, bem paulista, que abranda a sensação do frio. Esta é bonita de se ver pela janela. Umedece o ar quando saio para passear, sem molhar, só umedece um pouco a roupa, logo seca. É uma desculpa para chamar alguém para um abraço perto do fogo: “Vem cá se secar. Fica aqui comigo.” As plantas também gostam dela, e ficam mais verdes para mim.
Adoro olhar o verde. Ainda mais com estas gotinhas caindo entre nós e aquela neblina que sobe rala pelos morros e se enrola grossa no alto. Sento aqui em frente ao vidro enorme da parede, olho, sinto e escrevo.