Estava numa sala branca, toda branca, sem portas ou janelas.
Era tão branca e tão iluminada que não podia ver nenhuma parede, quina, canto, chão, nem eu mesmo.
Só podia tatear e foi assim que encontrei a parede, o chão e a mim.
Dizem que quando se morre, vai-se para o limbo. Dizem. Meu pai diz, aprendi com ele.
Lá não há nada, só eu e luz.
Deve ser assim. Pode ser mais aflitivo que isto?
Estava vestido. Sentia meu corpo e a roupa, graças às mãos.
Devia estar de avental ou macacão, como de mecânico.
No bolso havia algo. Peguei. Não era uma coisa só. Eram várias, iguais.
Demorou segundos para perceber o que eram: lápis.
Peguei um, fui à parede e tentei riscar.
Consegui, era colorido.
Troquei, também.
Experimentei todos.
Desenhei.
Desenhei uma janela dali.
Uma janela para o mundo.
Não fiz o trinco.
Quando terminei o desenho, com cuidado, abri.
O mundo lá fora, reconheci, eu já havia pintado antes.
Own! Arrepiante!
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Os que eu mais gosto são os que saem mais fáceis, mesmo que não sejam tão bem escritos.
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Não precisa ser difícil para ter valor
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Não, não precisa, não. Os que gosto devem ser mais fáceis porque estão à flor-da-pele.
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