Borboletas são bonitas. Mariposas não. São cascudas, escuras, parecem lascas de casca de árvore. Eu gosto de borboletas, e também de árvores. As mariposas são, para mim, o híbrido das duas.
Borboletas bonitas escondem-se nas árvores. Mariposas feias gostam de luz, lâmpadas, lampiões.
Sei que é uma fantasia inusitada, realmente inusitada, mas gostava de ser um mariposa, uma mariposa enorme, daquelas que, quando voam, dão-nos medo, confundimos-las com morcegos. Gostava de fazer a corte a uma linda borboleta, frágil. Trazê-la para minha casa, minha árvore. Depois cobri-la com minhas asas enormes, toda. Protegê-la? Possuí-la? Enquanto estivéssemos ali, sua beleza seria só minha. Com a chegada do dia, a descobriria para a luz do sol e ela só ficaria comigo se preferisse meu calor ao dele.
Eu sei que sou muito condescendente com a feiura, o mundo não foi feito para ela. Veja as reações diferentes que esses dois bichinhos tão parecidos inspiram nas pessoas. A mesma mãozinha delicada, de esmalte pink e anéis de feira hippie, que teme tocar uma e machucá-la, teme tocar a outra e se machucar.
Imagine a apreensão da lagarta que passa sua infância talvez sem saber se, ao crescer, será a bela ou a fera. Enrola-se no lençol para dormir e, daí a dias, ao acordar, corre desesperada ao primeiro espelho-d’água descobrir o quê o seu destino genético lhe reservou: a passarela das flores ou esconder-se, mimetizada, em troncos de árvores.
Encontrei uma hoje no elevador. Uma mariposa. Não estava junto à lâmpada, mas pousada no chão frio a um canto. Alvo fácil para uma foto. Pena não ser uma borboleta! Mas, pensando bem, como uma mariposa combina bem com uma foto preto-e-branco! Com pouco cuidado, mariposas não se assustam facilmente, aproximei a câmera do telefone e bati a foto, colorida. Depois aplicaria o filtro monocromático.
Só aí me toquei. Uma mariposa parada assim exposta no chão claro de mármore frio… Com cuidado, muito cuidado para não machucá-la, como faria a uma borboleta, toquei-lhe a ponta da asa esquerda com o telefone. Ela continuou parada, rígida. Empurrei-a, ela rolou de pernas para o ar.
Fiquei triste.
Não a deixaria apodrecer morta ali. Peguei-a com cuidado, levei para o jardim, como se estivesse pousada em minha mão. Coloquei-a arrumadinha numa forquilha de um arbusto.
Os pássaros me olhavam a alguma distância, logo viriam ali fuçar. Para ela já não fazia mais diferença, devia estar aliviada. Terminara sua vida de mariposa. Talvez na próxima, fosse uma borboleta.
Não existirá mariposa se não existisse a borboleta… Assim como a borboleta não existiria se não existisse a mariposa!
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Ainda gostava de ser uma mariposa, para cortejar uma linda borboleta!
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