A Bebel era amiga da Bibi. Essa é a coisa de que melhor me lembro sobre ela dos tempos da escola. A Bibi hoje é professora de português no interior. Já lhe mostrei algumas coisas que escrevi para cá sem, no entanto, lhe dizer onde postaria.
Lá pela quinta-série, elas se sentavam nas duas carteiras atrás de mim, na fileira encostada à parede das janelas que davam para as árvores entre as quais ajudamos a plantar a horta da escola. Essas janelas era na verdade vitrôs que começavam a mais ou menos um metro de altura e subiam até o teto da escola. Um ao lado do outro, muito próximos, davam a volta em todo o prédio sem respeitar as paredes mal-feitas que separavam as salas de aula.
Muito próximas também, talvez inseparáveis como BFFs (como diriam hoje), eram a Bebel e a Bibi. Não me lembro de muitas vezes ter visto uma sem a outra. Não se sentavam sempre na mesma posição e não me lembro mesmo se havia um padrão sobre como decidiam a cada dia quem se sentaria atrás de mim e quem ficaria na outra mais atrás. Foi meu amigo da frente quem lhes apelidou. Chamáva-lhes gaguejando, imitando voz de criança pequena que tivesse dificuldade para falar seus nomes.
Foi assim também que a Bebel, preta alta, muito bonita e simpática, apesar do constante rosto triste, e que sempre usava tiara forçando o cabelo para trás, me apelidou de Xelande. Num dia em que era ela atrás de mim, sentados tortos, de costas para a janela, como se estivéssemos lado a lado em poltrona de cinema, fingiu se confundir com meu nome e, percebendo que sorri, nunca mais me chamou por ele. Xelande ficou por anos. Muitos anos.
Dois ou três depois de já não estudarmos mais juntos, no caminho para minha escola, vi uma garota de corpo maravilhoso à minha frente. Uns vinte metros à minha frente. Por uns três quarteirões, me admirei dela, pensando em como é possível tentar puxar conversa com uma mulher tão bonita. Em frente à prefeitura, ela teve de esperar o semáforo e eu a alcancei. Parei à seu lado direito sem lhe olhar, acanhado, o pescoço imobilizado olhando para a luz verde que não queria passar a vermelha (naquele tempo, nem todos os semáforos tinham ainda o amarelo).
Me assustei um pouco quando a garota maravilhosa me falou surpresa: “Xelande!”