“… And these children that you spit on as they try to change their worlds are immune to your consultations. They’re quite aware of what they’re going through…”
— David Bowie
Este filme também é um dos que passaram de madrugada, Corujão ou coisa do tipo, na Globo, quando eu era adolescente. Eu me lembro que foi numa noite em que eu já estava acostumado a minha rotina de voltar da escola, cear assistindo o Jô e estudar vendo um filme. Este, quando começou, sem ação nenhuma (nenhuma, nenhuma mesmo), me pôs na retaguarda. Eu já tinha assistido alguns filmes que gostei muito e que começaram sem ação. Eu gosto desse tipo de história. A vida não é uma coisa frenética, ágil, muito pelo contrário. Ela se constrói aos poucos, enreda, enfada e enovela. De forma que eu vejo mais sentido, e me emociono mais, com histórias que são contadas por coisinhas, coisinhas simples, que acontecem todo dia, e que são tramadas com calma para chegar a algum lugar que nem sempre percebemos logo de cara.
Cinco adolescentes chegam à escola no sábado para ficar de castigo por alguma coisa. E é isso que eles fazem, ficam de castigo. Os cinco na biblioteca enquanto o diretor, que deve ser um mal-amado sem família, põe-se de castigo na própria sala, pelo gosto de saber que eles estão se fodendo. Cada um dos cinco é um estereótipo completamente diferente do outro. Sem nada para fazer, eles conversam e se provocam. E como é bom provocar!
Fazem o que adolescentes fazem melhor! Fiquei pasmo com quanto de mim encontrei lá!
Eu me lembro de quando passaram os filmes do Monty Python, acho que foram três ou quatro na mesma semana, e na escola todo mundo começou a fazer piadas com Sir Galahan, os Homens Que Dizem “Ni” e, principalmente, Shuberries. Achei que, da escola também, mais alguém tivesse visto este além de mim. E me decepcionei, nos dias seguintes, quando tentei falar dele e ninguém deu bola. Fiquei chateado, me sentindo deslocado. Bom, naquela escola, eu sempre me sentia deslocado. Até estar já adulto feito (e, para falar a verdade, também desde então), todos os dias, encontrei alguma coisa que pudesse me remeter a este filme, que pudesse usar algo dele para comentar.
A frase do final nunca saiu da minha cabeça. É sempre que alguém era babaca comigo por eu ser ou um CDF, ou um atleta amador pretensioso, ou um babaca metido que achava que os outros tinham de responder por seus problemas, eu me lembro dela. Das músicas, da senha do punho, não. O que eu sempre me lembrei foi dessa frase é dos choros, e também das caras de perdido.
A primeira pessoa que eu encontrei que também o havia assistido e gostado foi uma garota na faculdade. Na época, o filme já tinha uns dez anos. Era namorada de um amigo e me indignei com ele não ter dado bola para o que ela dizia do filme.
Engraçado que, hoje, não sei dizer de alguém que eu conheça e que o tenha assistido. Sempre falo dele, e ninguém sabe do que se trata (saberiam se eu falasse de Velozes e Furiosos, MMA ou da bunda de alguma gostosa de plantão), mas quando olhei aquele livro sobre os 1001 filmes, ele estava lá, listado como cult de uma geração e que a última cena era, inclusive, tema tradicional de camisetas e tatuagens. Acho que começo a entender o que cult e geração querem dizer.
Os cinco atores fizeram muitos filmes naquela época, depois sumiram.
É algo parecido com quando li Os Meninos da Rua Paulo. Este filme me lembra de coisas que eu já queria ter esquecido. Mas eu sou apaixonado por ele!