Eu fiz um painel na minha cabeça. Ele é amarelo, feio, parece um post-it gigante. Fica pendurado na parede de um dos quartos do meu futuro apartamento, que tem a planta muito parecida com a de meu primeiro apartamento, mas invertida. O quarto é mobiliado para poder ser dormitório ou escritório, dependendo de haver em casa alguém para usá-lo. A bicama serve vira poltrona. O guarda-roupa, armário. O painel, na versão dormitório, se esconde atrás do guarda-roupa. O resto da casa segue um padrão assim, poucos móveis, pouca decoração, para facilitar a limpeza. Papel de parede de cores esquisitas, que parecem escolhidas por crianças. Móveis de madeira escura. Cortinas simples e grossas. Se fecho a cortina é para filtrar a luz.
No painel, eu tenho vários post-its, do tamanho tradicional e daqueles menores também, verdes, azuis e rosa. Só não tenho do amarelo porque amarelo é o quadro. Ele é grande. Acho que um metro e vinte por oitenta. Conforme tenho ideias de coisas para escrever, anoto num post-it e colo nele.
As cores não tem um padrão, pego do primeiro bloquinho que aparecer. Os tamanhos sim, pego de acordo com o tamanho da anotação. Nos maiores, costumo escrever trechos de redação já meio prontos, esperando serem juntados a outros para formar algo. Nos menores, costuma por frases que acho interessantes, não necessariamente minhas, de onde tirar idéias. Escrevo e vou colando.
Quando quero escrever algo, fuço esse quadro. Pego uma frase e tento escrever alguns trechos, pego trechos e tento montá-los juntos. Vou trocando os papeizinhos de lugar.
Às vezes sai algo, que eu escrevo sem olhar se ficou bom. Outras vezes, não sai nada, olho ao redor, vou à cozinho, faço um café e me sento no beiral da janela, caderno na mão, escrevendo o que vir.