Pele bronzeada, pelinhos dourados nas pernas e nos braços, – tem mulher que não gosta de depilar – cabelo artificialmente loiro, rosto jeitoso. Ela não era linda, mas estava bonita. Vestido preto, não muito curto, justo. Bolsa pequena, de couro, também preta.
Saiu do prédio e está esperando à porta. É um desses prédios baixos de apartamentos sem quintal nem portaria. A porta de entrada do hall do elevador dá direto para a rua. Deve estar esperando o namorado que a vem buscar, ou os amigos. A está hora, não é recomendável mesmo estacionar ali esperando a pessoa descer. Esperar sozinha na porta, por incrível que pareça, é seguro. Assaltar pedestre é mais raro que motorista.
Ela olha para a esquerda, de onde vêm os carros. A carona deve vir de lá também. Eu, do outro lado da rua, na porta da padaria, café na mão, vejo e fico olhando. Inveja do namorado ou dos amigos.
Uma moto passa, mexe com ela, que ignora. Chega um carro, pára. O passageiro abre o vidro e começa a conversar. Deve ser a carona. Não é, vai embora. Chega mais um. Ou melhor, passa e volta de ré. Também um passageiro abre o vidro. Conversam algo alto, com risadas, alguém dentro do carro grita um “Vamos lá” bêbado. Não vão ainda. Alguém pergunta o nome dela. Daí a pouco ela vira e o passageiro da janela aperta sua bunda. Ela desvira. Abrem a porta, ela entra, vão embora.
Eu fico terminando meu café, pensando em quanta coisa há, que eu ainda não conheço, num sábado à noite.