Impromptu

Deve ter algum nome para isso. Não querer sair. Mas sair, de saudade de sair e escrever algo. Pedir a bebida de sempre. Se frustar porque não tem a mesa de sempre. Abrir quase dez textos já começados. Escrever uma ou duas frases em cada um. E fechá-los de novo. Perde uma hora nisso. Fuçar os rascunhos de cima a baixo e não encontrar nada que queira terminar. Nem querer escrever nada novo. A bebida não ter gosto e o tempo passar. Cansar de se esperar.
Na terceira vez em que fuça toda a lista de rascunhos e não encontra nada, se arrepender de já ter avançado tanto nos rascunhos que sabe que sabe não vai, nem quer, terminar. E achar um, já enorme, dos maiores que já escreveu. E ele ainda precisar de muito trabalho para ficar pronto. Não ter vontade de mexer nele, é passado, é de um dia que já passou. Arrepender-se de não tê-lo terminado na época e de haver gasto nele tanto esforço que poderia ser empregado em outra coisa, que fosse acabar.
Achar-se besta por se impressionar com uma coisa assim boba. Fuçar a lista mais uma vez, achar os mesmos rascunhos. Nada vai brotar ali sozinho. Ver aquele ali de novo. Lembrar de seu tamanho e de sua crueza. Olhar para o copo ainda cheio. Depois para cima e ter vontade de chorar.
Abaixar a cabeça e rascunhar rabiscos de pensamentos desconexos só para se saber escrevendo. Deve ter algum nome pra isso.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s