Eu nunca tive jeito para cantar. Gosto de música, mas não tenho o mínimo jeito de agradar alguém cantando. Gostaria. No momento do carinho, beijando o pescoço, cheirando os cabelos, o próprio pescoço, fingindo que não quero a boca, descansando as bocas de tanto beijar devagar, encostar as bochechas, o nariz na orelha, a boca perto, cantar baixinho, só pra ela ouvir, uma música que me emociona, que tenha uma mensagem, uma frase, que eu quero que ela ouça. Acho que, no máximo, conseguiria com isso uma risada carinhosa.
Queria entender de música, ter jeito para compor uma, uma simples, tinha de ser simples, músicas simples dizem mais, violão, contrabaixo, adoro contrabaixo e voz. Escrever a letra casada com a música. Ensaiar e lhe cantar a música que lhe fiz, pra lhe dizer o que ela sabe, mas gosta de ouvir de novo.
Se não consigo fazer uma música, podia cantar de outro. Havia de ser sincero, ela saber que não é minha. Saberia. E eu imaginaria seu sorriso escondido em meu ombro. Disfarçaria minha timidez escondendo meus olhos em seus cabelos. E teria mais dificuldade de cantar, um nó na garganta, feliz, satisfeito de agradar, se ela me abraçasse mais forte quando percebesse que o som que faço com a boca é cantar-lhe uma música que acho bonita, que queria te sido eu a lhe escrever.
Pôr minha num papel de carta, envelopar, selar-lhe com um tímido beijo de carinho. E tentar postá-la a seu coração.