Well, just spread your wings.
Yes, we’ll get higher and higher. Straight up, we’ll climb.
Higher and higher. Leave it all behind.
We’ll get higher and higher. Who knows what we’ll find?
So baby dry your eyes. Save all the tears you’ve cried. That’s what dreams are made of.
Baby, we belong in a world that must be strong. That’s what dreams are made of.
And in the end on dreams we will depend ‘Cause that’s what love is made of.
— Van Halen, Dreams
Depois de tanto subir, estavam os dois cansados. Ele que ia para o tudo ou nada. Também o amigo, que veio não por solidariedade, mas por amizade mesmo, pelo apoio e pela última companhia.
Chegaram à beira do abismo. Olharam em torno, as árvores pelas outras montanhas, os pássaros no céu. Só não olharam um ao outro. Olharam para baixo, por fim. Não se via nada. ambos sabiam que a chance de dar certo era mínima.
“Tem certeza de que é isso que você quer?”
Hesitante, não para responder, mas para ter certeza de que não se confundia ao dar a resposta que já sabia há muito. Assertivo porque a sabia, indubitável, a única possível.
“Sim, é o que eu quero. Você bem sabe disso. Há tanto que me conhece.”
“Mas eu pergunto se quer mesmo fazer. Querer e querer fazer são coisas diferentes. Você não tem como saber se vai dar certo. É sua vida. Ninguém vai te julgar. Você está consciente? Vai mesmo?”
Ele olha para baixo. Pensa, pensa bastante. O amigo espera. É para isso que servem os amigos, perguntar, explicar, segurar a ansiedade, esperar, sem pressa. Ele olhou bem, avaliou o perigo iminente, a tragédia anunciada, que já conhecia. Emocionou-se e, visivelmente emocionado, explicou:
“Foi para um dia ter isso que eu vivi até hoje, esperando a hora de poder tentar. Se nunca tivesse oportunidade, continuaria vivendo sonhando, mesmo quando já não tivesse mais força física nem lucidez para fazer. Mas hoje, que eu tenho a chance, se não tentar, vou passar o resto da vida infeliz pelo sonho que, covarde, não tive coragem de realizar. Que sentido teria todo o resto então? Viver por viver? Sobreviver hoje para tentar sobreviver amanhã? Para quê? Uma vida sem fim?”
Foi quando o amigo se calou que ele entendeu a força retórica que essas palavras tinham. Percebeu que não havia nada que pudesse ser dito em resposta. Seu argumento encerrava o assunto. E era melhor assim. Chorou nervoso. Chorou também porque sabia que nada fazia sentido se não tentasse e desse certo. Nada fazia sentido se falhasse, ou se não tentasse. E chorou também porque sabia das chances e tinha pena do amigo, que viveria após seu fracasso, que viveria uma vida sem esperança sabendo que sonhos não se realizam.
“Eu sei que não é justo pedir isso, — chorou mais e engasgou — mas se me faltar coragem, você me empurra?”
Pediu com o choro da certeza de que queria fazer, mas temendo um instinto animal que o freasse. É o maior medo que alguém pode ter. Então, vendo que transferiu ao amigo a responsabilidade por uma eventual covardia sua. não teve mais coragem de recuar. Chegou-se à beirada do abismo. Abriu os braços como já vira tantas aves de rapina fazerem. Fechou os olhos. Respirou o ar fresco, leve, da liberdade, e deixou-se cair para seu sonho.