Dirk Ohm – O Desaparecimento do Ilusionista
It’s all about the mind.
O alemão Dirk Ohm, ilusionista, em viagem pelo interior da Noruega, desapareceu do hotel e nunca mais deu notícias. Dirk Ohm existiu de verdade e sumiu de verdade, em fevereiro de 2013.
Foi a partir daí que o roteiro deste filme foi feito. Claro que, como o sujeito sumiu sem deixar pista nenhuma, ninguém nem sabe se ele está morto, apesar do filme ser dedicado à sua memória. Não se sabe o que aconteceu. Ha muitas suposições. A história do filme não é então a que aconteceu de verdade. Nem o roteirista fez um documentário ou uma reconstituição do que se sabe antes do sumiço. Ele é uma fantasia criada sobre o desaparecimento, o inverso, o que se conhece da personalidade do ilusionista e sobre ele ser um ilusionista.
Eu sempre gostei de mágicos. Nem sei se posso chamá-lo de mágico. Não sou assim um iniciado do meio para me importar em saber a diferença entre mágicos, ilusionistas, escapistas, aqueles caras que só fazem truques com cartas e os outros. Para mim são todos mágicos. Podem se ofender à vontade. Para mim, vocês são todos mágicos. E acho que esse é um modo muito mais legal de se pensar.
Gosto muito de circo, só por causa do mágico. Aquelas coisas de malabaristas, equilibristas, trapezistas e animais amestrados, eu acho muito chatas. Ainda assim, não gostei quando o governo de São Paulo proibiu as apresentações de animais nos circos. Por causa disso, os circos começaram a rarear por aqui. E, com eles, rarearam também os mágicos.
Apesar de gostar, eu nunca quis aprender mágicas para ser um. Gosto de ver e imaginar os quadros que pintam. São ótimas personagens para histórias.
People think they like you when you’re gone.
Imagine um sujeito que não é nada de especial, mas te surpreende volta-e-meia, com algo que sai de sua orelha, que brota da mão, que encontra em meio a seus cabelos. O sujeito que parece saber o que você está pensando sem que você nem ao menos esteja pensando.
Ele chega do nada a uma lanchonete. Se senta, pede um milk-shake de cenoura e, diante da recusa do garçon, começa a aprontar. Vai até uma criança que está chorando e, com uma das mãos, recolhe o choro, embola, guarda no bolso. Com a outra mão, acende uma chama, um fogo-fátuo. Joga-a no bolso, de onde sai uma explosão luminosa. Enfia então a primeira mão de novo no bolso e tira de lá uma risada, para gargalhada da criança.
Depois, vai até um casal que está brigando. Passa o braço entre os dois e ali aparece um espelho. Dupla-face. Cada um, agora, vê só a si mesmo, refletido. Ele faz sinal para que se aproximem do espelho e, quando já estão achando chato verem só os reflexos, o espelho some e eles percebem que estão se enxergando um nos olhos do outro. A birra some e aparece em seus rostos sorriso constrangidos pelo flagrante de criancice da briga boba.
Pula o balcão. Tira da fruteira uma banana. Descasca-a e, dentro, há uma cenoura. Coloca-a na batedeira do milk-shake e liga. Pára um pouco para experimentar e faz careta. Vai até a criança que chorava. Olha sua orelha. Dela, puxa um talo de funcho. A criança tenta pegar. Ele quebra ao meio e lhe dá um pedaço. A criança experimenta, estranha o gosto forte e cospe rindo. Ele joga o outro pedaço na batedeira. Cinco segundos e está pronto. Arranca a touca da cabeça de um dos funcionários e joga tudo dentro. Alguém grita um palavrão. E de dentro da touca sai um coelho arrotando a cenoura e funcho.
Ele então se senta de novo. Pede, de novo, o milk-shake. E, enquanto todos o olham comentando “o que será que está acontecendo?”, ele já não está mais lá. Um barulho no balcão chama a atenção. Todos se viram.
É o coelho, todo lambuzado de amarelo, brincando com a bisnaga da mostarda.
Adorei este filme!
Love is the perfect illusion.