Romeo y Julieta

Romeo y Julieta não estavam juntos, eram na verdade um só. Entremeados e enlaçados um no outro (como se poderia dizer que fazem as lombrigas, se fosse romântico falar em lombrigas), trocavam juras de eternos amor e fidelidade.

Os já mais experientes da vida podem jugar-lhes ingênuos e até deles rir. Afinal de contas, é a reação que todos temos frente às paixões dos jovens. E estes, em particular, são muito jovens.

Ainda assim, seria-nos de admirar, a nós e a ela, a dimensão que essa eternidade, esses “para sempre” e “até a morte”, toma no caso desses dois Julieta e Romeo. Nem Shakespeare, narrador de tragédias e comédias, lhes adivinharia ou fazia tal futuro.

Nem nós, que sabemos da fugacidade do amor e de suas juras, poderíamos conceber que o destino ironizasse essa promessa assim, sem pudor de demonstrar poder. Tampouco eles, apaixonados, envolvidos pelos encanto que os prazeres sempre hão-de ter aos jovens imaturos, e mesmo aos adultos, adivinhariam que um promessa se cumpriria tão fácil e quase involuntariamente.

Pega-lhes entre os dedos médio e indicador o Termo. O Termo, feio, velho (muito mais velho que eles), mal-humorado, barbudo e baforento, fedido a álcool que (não importa o preço ou a marca) é sempre álcool, é sempre barato.

Ele leva-os à boca e toca-lhes fogo. Aspira. Tenta tragar-lhes o que têm. Traga duas, três, quatro vezes e se admira (sem emoção) de ainda estarem unidos numa estátua que já é quase metade carvão.

Entre uma tragada e outra, tenta se distrair soprando no ar, como fuligem, a fumaça grossa que deles tira. Imagina o que seja. Imagina pelas formas que lhe percebe. Nuvem. Fantasma. Chifre. Carrossel. Loucura.

Mais duas tragadas, e a estátua se quebra. As cinzas caem na terra, na grama, e se esfarelam. Já eles não têm metade do peso original.

Duas ou três depois e o que deles resta lhe esquenta o dedo, ameaça queimar. Ele joga então esse toco, ainda queimando, no arbusto, ao pé de uma árvore. Nesse toco, estão enroscados, ainda firmes. Realmente até o fim.