Terras Desconhecidas

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Uma distração minha, em momentos de enfado, pego lápis ou caneta, um caderno de rascunhos, tenho vários, e desenho mapas de terras desconhecidas.

Hoje em dia, as pessoas crêem que já conhecemos todo o mundo. O engano é compreensível. Conhecemos, talvez, todo o mapa do mundo. Esmiuçado por satélites com potentes câmeras de vigilância. Contudo, não conhecemos todo o mundo, suas terras e gentes.

Um dia essas terras serão descobertas, embora duvide de que sejam descobertas todas, e seu conhecimento difundido pelo mundo.

As terras desconhecidas que desenho são, na maioria, ilhas. Pequenas, normalmente próximas de lugares conhecidos, mas sem rota regular de transporte.

Outras são montanhas ou vales cercados de verde. De acesso difícil até para quem já delas ouviu falar. Muitas vezes escondidas por árvores, neve, trilhas ruins, normalmente não há registro nenhum de sua existência além de boatos.

São ignoradas, essas terras todas, a ponto de não constar nos mapas mesmo de quem as vê. Somos assim, nós deste mundo, ignoramos o que não sabemos como tirar proveito. Vemos algo bonito e pensamos “Para quê serve? Quê faço disto?” Se não encontramos logo utilidade prática, não queremos nem “perder tempo” em catalogá-lo para mais tarde ou para quem se interessar. Tocamos a vida em frente para coisas sérias.

Eu me permito perder algum tempo com isso. Gostaria de ter mais tempo a perder. Quando percebo uma terra, nova ou velha, a que ainda não dei a devida importância, reparo-lhe o sítio, a forma, aparência, o aparente acesso. Faço isso em minha memória mesmo é, quando posso, desenho-lhe o mapa em papel. Como um mapa de pirata ou bestiário moderno.

Gosto de gente que tem esse mesmo interesse. Acompanhei o relato da descoberta da Ilha Desconhecida, nome apropriado, posto que, embora descoberta, muito de desconhecida ainda tem. O autor, perspicaz, não deu as coordenadas exatas. Isso facilitaria a chegada de leigos oportunistas. Ao invés, deixou no seu relato todas as pistas de onde e como chegar. Quem realmente se interessar de coração aberto, e isso é o mais importante, o coração aberto, desenhará fácil o mapa em seu caderno. Com algum esforço, sempre há esforço, uns tem mais jeito, facilidades naturais, mas todos tem de se esforçar. Com algum esforço, todo mundo, de coração aberto, pode encontrá-la e lá chegar. Conhecê-la, já leva tempo. A vida toda talvez. Conhecer uma terra não é turismo. Quem diz “Eu conheço tais e tais lugares”, na verdade, diz “Estive lá” ou “Vi”. Conhecer implicar percorrer devagar, observar, interagir, guardar.

As terras que desenho, não as conheço, não sei dizer exatamente onde ficam. Faço como o astrônomo que teoriza sobe as impressões que tem. Posso estar totalmente errado. Todavia registro meus rascunhos de mapa. Talvez, algum dia, eles ajudem alguém, mesmo que não seja eu, a encontrar algo. Ou a entender quem desenha esses mapas.

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