Macarronada

Please show me, please show me how to feel further from fantasy. I’m closer to you.
More I remember, The more I’m pulling through.

— Annie Haslam, Further from Fantasy de Kit Hain & John DeNicola

Não sei tem tem coisa pior pra quem escreve bem, já há algum tempo. Eu, quase quarenta anos, nem todos escrevendo, é bem verdade, estou hoje numa daquelas noites em que me sinto molho de tomate todo bagunçado pelo espaguete.

Deixe ilustrar melhor, espaguete não. Imagine aquela macarronada do domingo. Macarrão molenguento, cozido mais do que devia. Molho de tomate com queijo ralado barato, que cheira forte pela casa toda e deixa a toalha da mesa cheia de manchas laranjas.

Sou o molho. O macarrão, cada fio é uma das idéias.

Ah, sim, almoço de domingo, de família portuguesa, tem que ter vinho. Tudo bem, os da minha não tinham. Mas dá pra pegar a idéia, estou com o vinho aqui ao meu lado. Não é ele quem atrapalha, não. Acabei de pegá-lo, as ideias já estavam emaranhadas em mim por todo lado antes que eu o tocasse.

Só não consigo decidir por onde começar, o que deve ser contado primeiro, e o que se segue. Deixam-me louco. Cada idéia nova é logo seguida de outra, não as consigo criticar, selecionar. E, se, burro que sou, revisito as que posterguei, o arrependimento as trás à frente e a confusão só piora.

É tanta coisa por dizer. E não sei o quê.

Queria que fosse fácil, como naquelas cenas de filme, quando um gesto, uma palavra, um beijo, deixam tudo falado e o final é feliz.

Aí só seguem a música e os letreiros.

THE END

6 comentários em “Macarronada”

  1. Sempre acreditei que mais do que “o que” dizer, a relevância maior está no “como dizer”. Assim, viva o molho de tomate que quanto mais bagunça a macarronada mais saborosa ela fica! O vinho? Uma doce companhia…

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